segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Aonde mora o amor


“Primeiro a gente se conhece.Cada centímetro de pele, de ossos,de boca.Depois a gente se desconhece.Estranhamos cada palavra entre lacunas,cada suspiro, cada desvio de olhar.E o amor, está entre esses dois pontos”.

Mariela Oliveira.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Arte.




Olho a minha volta, quatro cantos, vinte e quatro anos, um guarda-roupas ultrapassado e que não diz nem um terço do que sou. As roupas que vejo nos outros me dizem mais do que as do meu corpo.Como se eu tivesse nascido aonde não era pra nascer, como se tivesse escolhido um caminho que não almejei.As coisas realmente estão fora do lugar.Quando irei morar numa casa com portas de capa de livro, sem teto, com cadeiras viajantes e um amontoado de estantes com seus livros divididos em cores?Quando encontrarei minha forma geométrica amarela laboratorial?Pertenço mais aquele mundo do que esse.Isso pode soar um tanto quanto subjetivo e superficial.Mas não, talvez seja a parte mais profunda.A minha vida tem que ser mais a minha cara.Dar voltas em círculos num mundo do qual meu eu faça mais parte.Individualismo nada.Apenas quero viver da maneira que me faça seguir o verbo a risca.Colocar meu cérebro,minhas vísceras,meus nervos,à mostra, deixar matéria e idéia expostos.

Mariela Oliveira.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Essência efêmera.







A cada passo, a cada amanhecer, na rotina cativante. Às vezes somem coisas costumeiras do lugar, o que deslumbrou os olhos. O dente de leão cortado pelo jardineiro, às marcas da pata de um cachorro na terra seca é coberta pela lama molhada. Aquela orquídea colorida de amarelo, roxo, branco e lilás como um tigre estampado dentro de suas pétalas, que se abre num dia e se fecha na noite. Habitualmente existe uma mudança, pequenas mudanças que num conjunto se tornam grandes. Desde o processo mais óbvio natural que é a modificação das marcas de passagem, através do tempo e do espaço. Tudo o que representou para a alma, que fez alguma manhã valer a pena. É meio triste pensar que é efêmero, que um dia o que nos tocou bem lá dentro do nosso íntimo vai embora... Não porque queira ir embora, mas por precisar ir.Mesmo assim pode ser que novos dentes de leão e orquídeas floresçam nos matos gramíneos e outros animais pisem na terra ainda molhada pela chuva, sutilmente com uma comoção macia em suas essências.
Mariela Oliveira.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Chuva de bolinhas laranja.


É como se meu corpo não acompanhasse minha mente, ainda me sinto como uma criança de seis anos com seus rabiscos e ranhuras. Ainda me sinto como uma criança que aprende a falar e a andar. Mas ao mesmo tempo vivi experiências que me fariam ter 100 anos. Através desses 100 gostaria de mais 100 deles repleto de dias felizes e cheios de sonhos.
Dá tanto receio e uma tremenda vontade de desistir, como se nem eu mesma mais acreditasse em mim. Já fui tantas vezes recusada e deixada de lado por algo ou alguém que amava que sinto um tremendo medo de se repetir novamente, como uma criança que é esquecida no portão da escola por mais de duas vezes. Sei que soa como algo mimado e manhoso. Só pode ser esse meu sentimento infantil que não se apagou em relação de como lidar com todo o redor e de como me faz imaginar uma chuva de bolinhas laranja.
Mariela Oliveira

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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O Vazio não é algo absolutamente ruim.















Às vezes é necessário deixar um espaço vazio.





Sem mágoas, tristezas que podem nos torturar uma vida toda.Sem ressentimentos ou arrependimentos cheios de um grande vazio.Deixar espaço livre para cultivar novas plantas de sentimentos bons.Semear um bom espaço silenciosamente cheio de nada e cheio de recordações únicas.Mesmo que essas sejam poucas, o que vale não é a quantidade, mas a intensidade.Esvaziar nossos rancores numa forma de oco e o peito cheio de alegria das pequenas coisas, mesmo as que existem no hoje, e as que ainda estão por vir.No vazio, por mais que pareça não existir nada, sempre tem alguma coisa ali, preste mais atenção,só não vale ser o que te definha.

Mariela Oliveira.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010


O Sol que toca no rosto, pela fresta da porta de madeira. Traz consigo faíscas de poeira toda cheia de luz. O simples que se torna encantador. Entre os cantos, teias de aranha ignoradas, tudo esplendorosamente iluminado. Isso me faz lembrar de quando nossos lábios se encontram numa conexão mútua, dessa nossa sintonia. É a mesma sensação que tenho com todas as coisas que me envolvem por completo.

Mariela Oliveira.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010



Entre as palavras de duas pessoas existe um abismo.Dentro de mim existe um precipício,que não sei bem ao certo onde começa e onde termina,como naquelas estradas cheias de curvas, que mesmo a iluminando com um farol alto nunca sabemos o que nos aguarda no próximo velocímetro.Essas curvas, esse espaço sem arestas, dói.Caio Fernando Abreu já havia mencionado sobre, e de fato, eu sinto essa dor intensamente,do que quase foi, do que ameaçou a ser.Um silêncio que só minha própria alma ouve.

Mariela Oliveira.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Estranha felicidade em sintonia com a melancolia.












Abri a porta balcão do meu quarto, deixei a luz das 16 horas da tarde entrar. Ao embalo de um som franco-iraniano, me sentei no chão do quintal. De mente vazia e coração cheio, me levei pela composição das notas musicais. Sem perceber, sem pensar e sem querer uma lágrima naturalmente escorreu... Depois desse breve momento comecei a pensar por qual razão, pois então, que não havia razão. O sentimento humano não é algo lógico, simplesmente a minha sensibilidade ficou exposta à luz do Sol, às minhas neuroses enquanto machucava a epiderme numa espécie de mania compulsiva, a cativante melodia de uma voz cantada com a alma e seu piano acompanhante. As lágrimas vieram, não por tristeza, por emoção. Uma felicidade com o lúdico da fantasia sincronizados numa estranha melancolia que resultou numa sensação de solidão que sempre existiu dentro de mim.

Mariela Oliveira.









terça-feira, 20 de julho de 2010

A espera do trem sem itinerário.









Parece que sempre estou numa estação de trem à espera de alguém chegar ou ir embora de mim. Perdida sem saber qual vagão escolher, talvez poucas vezes tenha decidido por mim mesma em qual deles entrar. Pareço à pertencer a uma vida que não é minha, a fazer parte de dias que não escolhi ou tracei assim...
Sempre crua pra fazer e encarar as coisas, nem semi-pronta.Tenho a sensação entre o tempo real e o sonho que perdi o controle do que existe a minha volta.Como se tivesse pego um metrô qualquer que por um acaso me empurraram e por um impulso fui parar dentro, sem rumo, sem direção.E então, onde queria estar não existe mais rota ou um cordão de lã pra seguir o tracejado do caminho.Minhas veias sentem a necessidade de encontrar por vontade própria algum grande projeto de vida, acontecer o que eu desejar, o que eu quiser que seja e não mais o que ‘era pra ser então’.Porque ainda sim me restam alguns fios desgastados que interligam o sonho,a ideia, o que me tornei e sempre fui.
Mariela Oliveira.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Não sei muita coisa sobre mim porque raríssimas coisas que me dizem respeito permanecem inalteradas. Quando acho que sei, eu congelo, e me torno rígida, e resisto à fluidez, e atrapalho o fluxo do mar da vida, e quase morro pelo esforço inútil de tentar amarrar as ondas. É quando menos sei que mais evaporo, e me transformo em nuvens de ricas possibilidades que viram a chuva capaz de fertilizar sementes de mudança nas terras áridas da minha ilusória estagnação.

Quando acho que sei, já mudei, mas ainda não sei. Quando acho que sei, já mudei, mas demoro a perceber. Fico lá, agarrada ao que já não é, chorando ou me encantando a partir de emoções que só fazem sentido para o que na maioria das vezes já deixei de ser. É quando menos sei que eu sinto mais. É quando menos sei que eu sei mais. É quando menos sei que eu sou com mais liberdade.

Não sei muita coisa sobre mim e já nem faço tanta questão assim de saber. O que realmente quero é criar espaço para viver a percepção nítida e inédita da beleza disponível de cada instante. Isso, sim, até onde eu pouco sei, é presente. E, quando estou alinhada com o tempo do meu coração, eu sei que é apenas isso, e tudo isso, o que há para ser desembrulhado. Para ser plenamente vivido. Nada mais.

.Ana Jácomo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Coisas da vovó.



















Bibelôs de negros africanos, cachorros tristonhos e outros de boa-sorte, bonequinhas japonesas, elefantes indianos, velinhos lado a lado... Embaixo deles uma toalhinha de crochê, tudo com muito mimo. Passarinhos engaiolados, amarelo, branco e preto, mesclado em plena cantoria. Plantas de diversas espécies no quintal, cabides que foram deixados à esmo no varal.Café preto quentinho.A típica máquina de costura, dedal, amolfadinha de agulhas que refletem o brilho pedindo para serem usadas.Corredor de brincadeiras nostálgicas na infância, cheio de galhos caídos por conta do inverno de agora.Telhas com musgos verdes de veludo,conversas da desistência da arte de outrora.Falta uma cor ai.Água posta e arroz jogado para os pardais.Um passeio na praça que faz entrada com a casa,árvore centenária de galhos retorcidos,folhas e insetos vermelhos.Leitura de um livro de filosofia infantil.Ainda ouço as risadas de quando era uma pequena criança sentada naquela velha amiga.Casa da vovó.

Mariela Oliveira.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O mundo eu pinto das minhas cores...









Sempre me impuseram uma maneira de vida padrão. O que planejar ao longo dos anos, o que estudar ou a maneira que devo me comportar. E eu teimosa que sempre fui, sai de todas essas linhas que me foram tracejadas. Desenhei mundos imaginários, coisas que vi em sonhos ao dormir e ao abrir os olhos para a tal da realidade. Apesar de ter sido muito solitária durante grande parte da vida, principalmente na infância, sempre criava as brincadeiras e os amores.

Agora me vejo na condição de abandonar alguns sonhos, me tornar gente grande como as pessoas todas dizem.Mas confesso que desejo tanto poder pintar os meus próprios caminhos, das cores da melancolia,aquela que a beleza se torna algo triste não por ser triste mas por algo ser absurdamente belo.Pintar meus caminhos daquela cor dos pensamentos de criança surrealista.Que gosta de ver o mundo girar em outra velocidade, controlado como o de um gira-gira.Não que faça girar o centro através de mim, mas que eu gire através do mundo.Quando a minha condição de artista e existência estão machucados tudo se torna cinza, preto e branco e apenas algumas coisas, aquelas que amo ficam em colorido.A sensação de me sentir perdida faz ter esse contraste.Agora, quando meu peito pula de alegria, principalmente nas manhãs de inverno,a luz do Sol que incide nas flores, objetos, queridas pessoas,meus animais de estimação faz com que tudo fique deslumbrante e isso me inspira de uma forma que não há adjetivos para definir.

Mariela Oliveira.

Arte de ser feliz.











Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé! Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça,o pombo parecia pousar no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz [...].

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Maribondos: que sempre me parecem personagens. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar para poder vê-las assim.

.Cecília Meireles

sábado, 19 de junho de 2010












“Estamos condenados à improvisação.Somos como atores, que são colocados num palco sem termos decorado um papel, sem um roteiro definido e sem um “ponto” para nos sussurrar ao ouvido o que devemos dizer ou fazer.Nós mesmos temos de decidir como queremos viver”.

.O mundo de Sofia

terça-feira, 15 de junho de 2010















Tento apoiar minha ansiedade e essa insegurança nas palavras dos outros.Vagando por páginas de escritores, a procura de algo que possa me confortar.Mas ao contrário disso, é a necessidade da minha própria palavra como remédio para a emoção.O novo às vezes assusta, não no sentido de fuga, mas do abandono.Nos tornamos viciados a um tipo de situação, no meu caso o abandono e a reprovação.Tudo passa em minha mente como num filme de drama romântico patético.Só fiquei viciada nisso.Quero largar essa droga de sentimento neurótico de uma vez por todas!

Maldita insegurança.

sábado, 12 de junho de 2010









Não entendo a razão por se ter vivido em um turbilhões de experiências ásperas, quando acontece algo que nos deixa feliz, o medo vêm junto. Uma insegurança bizarra, do que ainda não aconteceu, do que está por vir e trará num pressentimento bom cores mais vibrantes à nossa maçante rotina. Acostumados a enfrentar obstáculos e dias mais frios, a felicidade soa mais como uma afronta, e isso é ridículo. Será que é pelo fato desse sentimento ser tão momentâneo como as nossas tristezas? Mais uma vez não sei.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Quanto mais palavras saem de minha boca
mais me dou conta de que não sou eu que falo
pois o que penso não tem nada a ver
e o que faço já é outro papo
e o que pareço já nem sei contar

.Martha Medeiros.

domingo, 6 de junho de 2010
























Moro entre o dia e o sonho.
Onde cochilam crianças, quentes da correria.
Onde velhos para a noite sentam
e lareiras iluminam e aquecem o lugar.

Moro entre o dia e o sonho.
Onde tocam claros sinos vesperais
e meninas, perdidas da confusão,
descansam à boca do poço.

E uma tília é minha árvore querida;
e todos os verões que nela se calam
movem outra vez os mil galhos,
e acordam de novo entre o dia e o sonho.

.Rainer Maria Rilke

quinta-feira, 3 de junho de 2010










Sinto meu peito congelar.Não estou desesperada gritando aos quatro ventos - Por favor, alguém me tenha ao seu lado!Mas muitas vezes a solidão não me soa tão bem.Quanto mais me sinto só, mais me comprimo, sim, isso parece algo totalmente contraditório.O que me atrai não se atrai e vice-versa.Me sinto aquelas adolescentes tolas que se escondem num mundo platônico e fantasioso.Meu mundo eu pinto com outras cores,vivo mais nos meus sonhos do que na crua realidade.Sabe aquela vontade de chorar sabe-se lá por quê? Vejo minha vida inteira passar dentro da minha mente num instante de segundo. Talvez hoje ela caiba resumida em 60 segundos. Quero voar daqui, mudar de nome, mudar de mim mesma, mas sinto que o meu oxigênio todo foi preso dentro de uma caixa de aço e acrílico. Me sinto como o vento , porém essa condição de carne e osso me impede um pouco de percorrer as correntezas e seus caminhos...

terça-feira, 1 de junho de 2010













Quando a idade decide invadir a minha porta me convidando para um chá, disse a mim mesma – Não tenha medo da felicidade. Decidi ser feliz, estampar um sorriso na face. Porém, me esqueci que pra a gente se sentir realmente assim, não basta mostrar a simpatia do dia. Tudo caminha muito lentamente, mas meus anos passam rápido. Ah, meus 20 e poucos anos! E depois, meus 30,meus 40...Palavras de desejo de comemoração ditas em vão e não com o coração.Começo de um novo ano na vida, cheios de expectativas.Fico pensativa, o que de fato fiz que seja honroso.Giro, numa escada que chega até o céu feita com cipó e mais algumas esperanças.Não existe banco, degraus, ou escadas, sei disso,mas mesmo assim me sinto a girar.Tonta, talvez seguida da sensação de estar lenta e dormente.Pessoas se atraem pelo sorriso da decisão em ser feliz.Mesmo assim, me sinto apenas um curinga no meio a um mundaréu de gente.Um curinga risonho e brincalhão que se preocupa mais com os outros do que consigo mesmo, e volto a me esquecer.No domingo decido ser alegre, na terça fico impaciente e sociopata.Somos assim, uma pessoa só, cheia de sonhos dentro de uma porta sem fim.
Nas entrelinhas dos gestos aparentemente mais tolos, das falas mais desconexas, dos silêncios mais barulhentos, às vezes está escrito com maiúsculas, fonte tamanho 72, em negrito, apenas isso: “Por favor, me ajuda!”.

Acostumados com as evidências, acomodados com as aparências, tantas vezes medrosos, em geral, não conseguimos ler.


.Ana Jácomo

sexta-feira, 28 de maio de 2010













A ciência crê fielmente que os animais não possuem alma, estranho isso, sinto a alma da minha gata a cada ron ron e a cada batida do seu doce coração. Dizem que só nos apaixonamos uma vez e que dura apenas seis curtos meses, estranho, consigo me apaixonar quantas vezes for necessário e mesmo assim fazer com que cada explosão dessas perdure por um longo tempo, não precisamente do modo sexual.As pessoas dizem muitas coisas,algumas coisas elas não sabem explicar e nem eu mesma sei.Só sei que consigo voltar à infância nas cores e nos traços que eu quiser, que a imaginação é uma dádiva, e cada ser vivo ou não vivo pode ter sua própria criatividade.Basta fazermos respirar.Não quero perder a doce inspiração que tinha nas minhas tardes de cantoria no poço, não quero deixar de me emocionar com uma música, um sabor, um toque ou uma cor.Por mais que a maturidade me traga o medo da solidão, não quero perder essa magia de tentar viver.A solidão e o silêncio também podem ser coisas boas.Isso não significa que não queira compartilhar nada, nem que seja o vazio que fica entre os espaços e as distâncias.Não quero perder essa coisa de querer e de sonhar alto e amar maior ainda!







Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.
.Caio Fernando Abreu

terça-feira, 25 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010













As pessoas são tão maçantes.
Sinto tédio em ser simpática, em ser nobre.
Ninguém entende isso como algo que é de essência.
Tanta cara de merda e risos falsos numa multidão que procura a imensidão de preencher um vazio por outro.
São grosseiras, não se interessam em compartilhar nada de útil e nem a ajudar.
Realmente me sinto vivendo num pré-ensaio sobre uma suposta cegueira.
Se eu quisesse
sairia da cidade
moraria onde pudesse
deixaria saudade
partiria quando desse
não interessa a idade
andaria a esmo
descobriria ruas
iria sozinha
pediria abrigo
trabalharia à noite
viveria de dia
ouviria música
saberia línguas
pediria arrego
trocaria o nome
mandaria cartas
choraria às vezes
não envelheceria
perderia o rumo
cometeria erros
distribuiria beijos
arruinaria casamentos
visitaria museus
deixaria o cabelo crescer
sorriria diferente
montaria uma casa
viajaria em cargueiro
faria tudo isso
se eu quisesse mesmo.

. Martha Medeiros.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

I´m so tired.

Procuro a Solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
pensamento sem razão

Procuro esconderijo
encontro um novo abrigo
como a arte do seu jeito
e tudo faz sentido

calma pra contar nos dedos
beijo pra ficar aqui
teto para desabar
você para construir.

. Ana Cañas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010














Eu sei que às vezes é quase irresistível não dar trela àquela voz traiçoeira, nossa velha conhecida, que nos incita a desistir dos nossos sonhos com ares de quem propõe a coisa mais bacana do mundo. Não nos esparramarmos, doídos pra caramba e também com um algum conforto, na autopiedade, essa areia movediça ávida por engolir nosso lume.

Eu sei que às vezes é quase irresistível não desdobrar a lista de decepções que mantemos atualizada com zelo de colecionador para nunca nos faltar matéria-prima pra lamúria. Não relembrar sem economia de minúcias cada frustração vivida com o olhar amarrado e a tristeza viçosa que só fazem aumentar a dor da vez.

Eu sei que às vezes é quase irresistível não eleger um algoz e acentuar um pouquinho mais as nossas feições sofridas para as novas poses do nosso álbum de vítima. Não nos responsabilizarmos pela parcela de participação que nos cabe em boa parte das encrencas em que nos metemos, e que, se olharmos com olhos lúcidos, de preferência também lúdicos, às vezes nem é tão pequena como é mais fácil acreditar.

Eu sei que às vezes é quase irresistível não ficar morando na dor como se dor fosse casa de veraneio. Não arriscar um passo fora do terreno da nossa desesperança porque sentimos que nos sobra cansaço e nos faltam pernas. Eu sei que às vezes é quase irresistível. Eu sei que às vezes a gente não consegue mesmo resistir. E sei que quando não resistimos, está tudo bem: esse lugar também passa.

De apelo a apelo, vamos caindo e levantando ao longo da estrada, apurando o coração para tornar muito mais irresistível o nosso amor paciente e generoso por nós mesmos. Para desdobrar com maior frequência, na memória, a lista que conta as conquistas todas de que já fomos capazes, nós que tantas vezes parecemos tentar desmentir as nossas pérolas.

De apelo a apelo, vamos caindo e levantando ao longo da estrada, apurando o coração para fazer valer, na prática, o nosso respeito à oportunidade inestimável de estarmos aqui. A nossa intenção de não desperdiçar esse ouro que é o tempo, essa maravilha que é o corpo, essa graça que é a vida. Essa que, se olharmos com olhos lúcidos, de preferência também lúdicos, sempre topa inventar maneiras conosco para se vestir de convite irrecusável de novo.

. Ana Jácomo.