sexta-feira, 28 de maio de 2010













A ciência crê fielmente que os animais não possuem alma, estranho isso, sinto a alma da minha gata a cada ron ron e a cada batida do seu doce coração. Dizem que só nos apaixonamos uma vez e que dura apenas seis curtos meses, estranho, consigo me apaixonar quantas vezes for necessário e mesmo assim fazer com que cada explosão dessas perdure por um longo tempo, não precisamente do modo sexual.As pessoas dizem muitas coisas,algumas coisas elas não sabem explicar e nem eu mesma sei.Só sei que consigo voltar à infância nas cores e nos traços que eu quiser, que a imaginação é uma dádiva, e cada ser vivo ou não vivo pode ter sua própria criatividade.Basta fazermos respirar.Não quero perder a doce inspiração que tinha nas minhas tardes de cantoria no poço, não quero deixar de me emocionar com uma música, um sabor, um toque ou uma cor.Por mais que a maturidade me traga o medo da solidão, não quero perder essa magia de tentar viver.A solidão e o silêncio também podem ser coisas boas.Isso não significa que não queira compartilhar nada, nem que seja o vazio que fica entre os espaços e as distâncias.Não quero perder essa coisa de querer e de sonhar alto e amar maior ainda!







Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.
.Caio Fernando Abreu

terça-feira, 25 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010













As pessoas são tão maçantes.
Sinto tédio em ser simpática, em ser nobre.
Ninguém entende isso como algo que é de essência.
Tanta cara de merda e risos falsos numa multidão que procura a imensidão de preencher um vazio por outro.
São grosseiras, não se interessam em compartilhar nada de útil e nem a ajudar.
Realmente me sinto vivendo num pré-ensaio sobre uma suposta cegueira.
Se eu quisesse
sairia da cidade
moraria onde pudesse
deixaria saudade
partiria quando desse
não interessa a idade
andaria a esmo
descobriria ruas
iria sozinha
pediria abrigo
trabalharia à noite
viveria de dia
ouviria música
saberia línguas
pediria arrego
trocaria o nome
mandaria cartas
choraria às vezes
não envelheceria
perderia o rumo
cometeria erros
distribuiria beijos
arruinaria casamentos
visitaria museus
deixaria o cabelo crescer
sorriria diferente
montaria uma casa
viajaria em cargueiro
faria tudo isso
se eu quisesse mesmo.

. Martha Medeiros.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

I´m so tired.

Procuro a Solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
pensamento sem razão

Procuro esconderijo
encontro um novo abrigo
como a arte do seu jeito
e tudo faz sentido

calma pra contar nos dedos
beijo pra ficar aqui
teto para desabar
você para construir.

. Ana Cañas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010














Eu sei que às vezes é quase irresistível não dar trela àquela voz traiçoeira, nossa velha conhecida, que nos incita a desistir dos nossos sonhos com ares de quem propõe a coisa mais bacana do mundo. Não nos esparramarmos, doídos pra caramba e também com um algum conforto, na autopiedade, essa areia movediça ávida por engolir nosso lume.

Eu sei que às vezes é quase irresistível não desdobrar a lista de decepções que mantemos atualizada com zelo de colecionador para nunca nos faltar matéria-prima pra lamúria. Não relembrar sem economia de minúcias cada frustração vivida com o olhar amarrado e a tristeza viçosa que só fazem aumentar a dor da vez.

Eu sei que às vezes é quase irresistível não eleger um algoz e acentuar um pouquinho mais as nossas feições sofridas para as novas poses do nosso álbum de vítima. Não nos responsabilizarmos pela parcela de participação que nos cabe em boa parte das encrencas em que nos metemos, e que, se olharmos com olhos lúcidos, de preferência também lúdicos, às vezes nem é tão pequena como é mais fácil acreditar.

Eu sei que às vezes é quase irresistível não ficar morando na dor como se dor fosse casa de veraneio. Não arriscar um passo fora do terreno da nossa desesperança porque sentimos que nos sobra cansaço e nos faltam pernas. Eu sei que às vezes é quase irresistível. Eu sei que às vezes a gente não consegue mesmo resistir. E sei que quando não resistimos, está tudo bem: esse lugar também passa.

De apelo a apelo, vamos caindo e levantando ao longo da estrada, apurando o coração para tornar muito mais irresistível o nosso amor paciente e generoso por nós mesmos. Para desdobrar com maior frequência, na memória, a lista que conta as conquistas todas de que já fomos capazes, nós que tantas vezes parecemos tentar desmentir as nossas pérolas.

De apelo a apelo, vamos caindo e levantando ao longo da estrada, apurando o coração para fazer valer, na prática, o nosso respeito à oportunidade inestimável de estarmos aqui. A nossa intenção de não desperdiçar esse ouro que é o tempo, essa maravilha que é o corpo, essa graça que é a vida. Essa que, se olharmos com olhos lúcidos, de preferência também lúdicos, sempre topa inventar maneiras conosco para se vestir de convite irrecusável de novo.

. Ana Jácomo.





















Quero ir embora daqui.
Não pra fugir dos meus problemas numa espécie de escapismo de coisas inacabadas.
Pra encontrar meu caminho, como pessoa e como artista quem sabe.
Talvez isso não resolva, mas preciso arriscar.
Dizem que quando queremos viajar, sair do nosso lar, para nos encontrar...que podemos nunca mais achar o nosso eu.
Pois então, estou sujeita a esse talvez.
Preciso de mudanças, novos ares, nova forma de agir, por mais que seja duro e difícil.
Mas sei que essa mudança parte primeiramente de mim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010



Não sei, quanto mais crio teorias de tudo sobre o que aconteceu em minha cabeça.
Vejo que não sei.
E esse porquê não sei de quê.
Meus erros de ortografia, essa gastrite.
Nada me toca e eu não toco nada.
Preciso enxergar, talvez esteja insolente e cega diante da vida.
"O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade".

- Em memórias de Lilian -
..Pequenas Epifanias

"Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio"


.Caio Fernando de Abreu


"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso"

.Caio Fernando de Abreu

terça-feira, 18 de maio de 2010














"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada"

.Caio Fernando de Abreu.

domingo, 16 de maio de 2010


É como uma bêbada que atravesso os dias intuição do caminho.

As reações que em outros são previsíveis a mim acontece inopino.

Não me pertenço

A verdade em mim são os detalhes da mentira

Meus pormenores, ácidos

O que não lateja me entorpece

Consurmir-se é vício

Legalizem-me já.

. Martha Medeiros.

quarta-feira, 12 de maio de 2010




















te amei
como nunca amei nessa vida
e do final deste amor
restou uma mulher tão fria
que nem por ti mesmo
conseguiria sentir
o amor que senti um dia

. Martha Medeiros - em cartas extraviadas










Vejo-me dentro de uma caixa com furos.

De dentro pra fora e de fora pra dentro.

Tenho uma tendência de me empurrar cada vez mais pra dentro de mim, quando assim sou movida por uma série de incertezas.

O dia parecia mais cumprido, mais sentido, mais pensado.

Desde esse frio confortável, a leve brisa, o final do dia e a densidade bela da luz do Sol.

Cada mínimo detalhe me deslumbrou.

Senti vontade de um abraço.

Embora seguida de boa companhia.

Senti-me um tanto perdida e cansada, muito introvertida.

Coloco meus antigos amores numa estante empoeirada.

Não sinto mais aquelas mariposas safadas dançando em meu estômago dolorido.

Não fico mais sem ar, atordoada.

As últimas pessoas por quem me atraí não eram recíprocas.

Os últimos empregos que desejei não me trouxeram respostas.

Sei o que quero, mas tudo parece estar na última prateleira.

Onde está o banquinho com os degraus?

Essa inércia me deixa desmotivada.