segunda-feira, 13 de maio de 2013

Enterrar vivo.



Certos sentimentos devem ser enterrados vivos, e serem largados lá, à sete palmos abaixo da terra até darem o seu último suspiro. Jamais devemos desenterrá-los na esperança de fazê-los reviver. É muito perigoso desenterrar algo que já havia deixado bem lá no fundo, fazer pulsar as antigas dores, as antigas saudades. Fazer pulsar o que sabe que não vale a pena. O que sabe que não é afetuoso como deveria ser. Tudo isso é muito cansativo e podemos cultivar novas sementes. Somos seres que gostam de viver no mártir. E é muito tortuoso. Queremos sempre chegar às entranhas, às vísceras dos nossos próprios sofrimentos.



Certos sentimentos são como a caixa de Pandora; jamais devem ser expostos, pois podem revelar o que há de mais obscuro e doloroso de dentro do nosso âmago.


Embarque e desembarque.


Enquanto esperava a minha saída do Terminal Tietê observava o fluxo de pessoas indo e vindo. Abraços chorosos de despedida entre dois casais, uma das mulheres está grávida e suspirava ao se despedir, creio eu, do pai do filho que carrega em seu ventre. O relógio marcava 17h 30 min, à direita a entrada e saída do metrô, à esquerda encontra-se o ponto dos táxis. Logo em frente ao ponto dos taxistas um trio de amigos de meia-idade acabavam de se encontrar num abraço saudoso. Os carregadores vestidos com os seus uniformes amarelos e pretos e chapéus de aba redonda e reta descansavam em cima dos carrinhos para carregar as malas. Eles pareciam ter vindo de outro tempo, da década de 20, foi assim que imaginei. O abraço que chegou a durar cerca de um minuto do casal onde a mulher encontra-se grávida já parecia cheio de nostalgia e ausência, mesmo sem terem dado as costas um para o outro.

São Paulo sempre foi uma cidade misteriosa aos meus olhos, quase que indecifrável. Rapidez, correria, pessoas ranzinzas, pessoas apressadas rangendo os dentes. Em contrapartida sempre me pareceu uma cidade repleta de novas e inúmeras possibilidades. Como se a cada segundo pudesse acontecer algo surpreendente e até mesmo insano. Mas nada acontece, e tudo acontece. É uma cidade cuja extensão é gigantesca, diga-se de passagem, a 2ª maior do mundo e, por isso, contém muita responsabilidade, depositam muitas expectativas nesta cidade.

Tudo acontece; cinemas alternativos, cafés, bares a cada esquina, museus, artistas de rua na Paulista, gente andando sem preocupação na madrugada pelas ruas. E nada acontece; apesar da Intervenção Urbana dos corações nos monumentos da cidade contradizer Criolo mencionando que existe sim amor em Sp, não sei explicar a razão, mas toda vez que visito a cidade sinto uma imensa solidão, milhões de corpos em um curto e longo espaço e pouco afeto. Pode ser que esta minha percepção esteja equivocada, pois minhas visitas são superficiais, quem sabe se tivesse uma relação mais intensa com a cidade este sentimento pudesse mudar.