Enquanto esperava a minha saída
do Terminal Tietê observava o fluxo de pessoas indo e vindo. Abraços chorosos
de despedida entre dois casais, uma das mulheres está grávida e suspirava ao se
despedir, creio eu, do pai do filho que carrega em seu ventre. O relógio marcava 17h 30 min, à direita a entrada e saída do metrô, à esquerda encontra-se o
ponto dos táxis. Logo em frente ao ponto dos taxistas um trio de amigos de
meia-idade acabavam de se encontrar num abraço saudoso. Os carregadores vestidos
com os seus uniformes amarelos e pretos e chapéus de aba redonda e reta
descansavam em cima dos carrinhos para carregar as malas. Eles pareciam ter vindo de
outro tempo, da década de 20, foi assim que imaginei. O abraço que chegou a
durar cerca de um minuto do casal onde a mulher encontra-se grávida já
parecia cheio de nostalgia e ausência, mesmo sem terem dado as costas um para o
outro.
São Paulo sempre foi uma cidade
misteriosa aos meus olhos, quase que indecifrável. Rapidez, correria, pessoas
ranzinzas, pessoas apressadas rangendo os dentes. Em contrapartida sempre me
pareceu uma cidade repleta de novas e inúmeras possibilidades. Como se a cada
segundo pudesse acontecer algo surpreendente e até mesmo insano. Mas nada
acontece, e tudo acontece. É uma cidade cuja extensão é gigantesca, diga-se de
passagem, a 2ª maior do mundo e, por isso, contém muita responsabilidade, depositam muitas
expectativas nesta cidade.
Tudo acontece; cinemas
alternativos, cafés, bares a cada esquina, museus, artistas de rua na Paulista,
gente andando sem preocupação na madrugada pelas ruas. E nada acontece; apesar
da Intervenção Urbana dos corações nos monumentos da cidade contradizer Criolo
mencionando que existe sim amor em Sp, não sei explicar a razão, mas toda vez
que visito a cidade sinto uma imensa solidão, milhões de corpos em um curto e
longo espaço e pouco afeto. Pode ser que esta minha percepção esteja
equivocada, pois minhas visitas são superficiais, quem sabe se tivesse uma
relação mais intensa com a cidade este sentimento pudesse mudar.