Meus
relacionamentos amorosos sempre foram confusos e não duraram muito tempo. Cada
um pelos seus motivos que são bem característicos. Não sou do tipo de mulher
que acredita naquele romantismo à moda antiga cujo o homem sempre tem que
tomar a frente e se mostrar o protetor, o herói, o cavalheiro, pagar um jantar,
mandar flores e telefonar só pra deixar um sinal no dia seguinte. Não acredito
que todas essas coisas definam um bom relacionamento. Mesmo eu não sendo perita
em falar sobre eles. A mulher pode sim tomar a frente quando ela quiser, pode
ajudar o homem se assim for preciso. Quando falo: homem e mulher faço
referência ao que vivenciei. Não excluo os relacionamentos homoafetivos e nem
faço uma glorificação aos relacionamentos heterossexuais. A mulher pode agradar
também, pode ser protetora. Enfim, acredito em um relacionamento em que haja
reciprocidade, carinho, respeito, cumplicidade, companheirismo e acima de tudo
amor.
Nos
últimos três anos não namorei de uma maneira mais intensa ninguém. Em
compensação me envolvi com muitos homens. De várias opiniões, idades,
filosofias, profissões e temperamentos diferentes. Alguns duraram poucos
encontros, outros duraram um mês, dois. Com todos eles eu tentei me manter
interessada e disposta a começar o novo. Quando começo a me envolver com uma
pessoa tento não pressionar ou cobrar com questionamentos ou induções sobre namoros.
Tiveram vezes que eu realmente gostei de alguns deles e cheguei a pensar em
namorá-los. Mas não disse. E não me disseram também. Ou se disse foi com aquele
desconforto em não parecer que havia cobrança, mas ao mesmo tempo era um
ultimato. Sou a favor sim de a mulher tomar a frente como já disse
anteriormente, nunca o fiz nessas situações por alguns tabus que tenho quando
se trata de colocar certos pingos nos is. Acredito que por mais que eu queira
um relacionamento duradouro eu não me enquadro no caso de ser uma mulher
desesperadamente carente. Me considero carente. Mas não ao ponto de não ter nenhum amor próprio. Quanto a carência, quem não é carente? Todo mundo gosta
de afeto, de carinho, de afago e zelo. Não condeno as mulheres desesperadamente
carentes. Se uma pessoa, seja ela homem ou mulher, se encontra nessa situação têm muitas histórias e
acontecimentos que fizeram com que elas ficassem assim. Nesse tempo em que
estou solteira e em outros tempos, o que eu percebi e tenho comprovado a cada
dia é que: mesmo os homens legais vão te decepcionar se eles estão interessados
apenas em sexo casual, as pessoas não são muito sinceras quando elas têm um
interesse específico simplesmente vão e fazem o que dá na telha, é muito mais
fácil ter vários casos como cartas nas mangas do que tentar um relacionamento,
algumas pessoas não vão falar sobre as suas falhas e nem querem saber sobre as
suas no começo de um envolvimento, e o principal; a pessoa pode até gostar de
você, considerar a sua companhia agradável, te achar interessante e atraente,
mas, se não houver interesse o envolvimento pode durar alguns meses e talvez não se
tornará nada além disso. E a questão só entrará em vigor, sobre a evolução do
envolvimento quando um dos envolvidos se sentir incomodado com o tal de não tocar no
assunto sobre namoro. Caso não for sobre namoro, sobre o que acontece entre os
dois, do que se trata o que os dois têm.
É
muito mais cômodo não tocarem em assuntos delicados como: isso vai virar um
namoro? Onde isso vai dar? Ou então em assuntos que vão fazer com que as pessoas saiam das cascas
de suas certezas confortáveis. É muito mais fácil combinar pra sair com os seus
amigos num bar barulhento aos finais de semana do que chama-los pra uma
conversa que envolva o verdadeiro fato de como foram as suas semanas, ou então,
como vão as suas vidas. Ninguém quer se expor realmente e é vergonhoso quando
os outros sentem a necessidade de se exporem. É sempre bom não vir ao caso o
que sentimos, do que temos receio ou medo, o que nos incomoda, o que nos
traumatiza. E se relacionar é isso. É se expor e deixar que o outro se exponha.
É sentir-se nu não apenas no sentido literal. Só que é muito mais seguro não ir
além. Por mais que haja motivos pra isso. Os seus amigos são legais, a pessoa
com quem saí é bacana. Mas cada um com as suas vidas. Não vamos falar a respeito de coisas
chatas, vamos beber, vamos transar! E depois cada um de nós voltamos às conchas
de nossas convicções.
No começo de um envolvimento sexual ou de uma amizade as
pessoas não param de se elogiar, de mostrar o quão perspicazes e habilidosas
são. Depois, quando começam a traçar uma rotina, e a enxergarem que ambos são
feitos de erros, falhas, incertezas, egoísmos, inseguranças, tudo é posto à
prova: as coisas esfriam e tomam lados opostos ou o companheirismo será pra valer.
Tem gente que vê o lado negro da Lua como uma questão natural e existente, às
vezes até instigante. Tem gente que já se assusta e prefere não explorar esse
outro lado até então não visto ou mencionado.
Juro
que estou farta de tentar. Estou cansada dessa formalidade toda, dessa falta de
interesse, dessa falta de afeto, desse individualismo todo. Simplesmente não
suporto mais. Eu quero saber lidar com os dois lados (com os meus e o das
outras pessoas): com o lado que o Sol incide a sua luz e com o lado onde não há
luz, onde não há calor. Sei que a luz e a sombra se complementam. Que não existe
razão para nos envergonharmos dos nossos desejos, dos nossos sentimentos, dos
nossos medos. Acredito no laço, acredito na união que possa existir entre as
pessoas e não em conchas completamente isoladas, enclausuradas. O esconderijo é
necessário, mas a intersecção é o que faz tudo valer a pena. Afinal, o amor e a
felicidade precisam ser compartilhados e as tristezas também. As pessoas tem
uma relutância de começarem um relacionamento por receio de exporem as suas próprias fragilidades. Enquanto elas se mostram fortes e afirmam que preferem não
envolver os sentimentos, a verdade é o contrário disso.