sábado, 30 de agosto de 2014

Feita de poesia.

Como melodias, as mastigo e as transformo em música
dentro do meu estômago.
Bebo tinta e componho;
com linhas, manchas e cores
na minha bexiga.
Mastigo palavras,
as rumino.

Meu corpo todo,
as minhas veias,
os meus órgãos,
carne, músculos:
é tudo feito de poesia.

Há lirismo em tudo.
Ora é melancolia
azul e lilás.
Ora é plenitude
amarela, vermelha e laranja
assim como o entardecer.

Dentro de mim oscilo entre
a sensação dolorida da calada da noite fria,
e a sensação pacífica do crepúsculo:
de vir o sol beijando o horizonte.

Oscilo entre o vazio
e o que transborda.
Entre a solidão e
a simbiose.
Me transformo em matéria bruta diante as minhas convicções,
deságuo e desintegro entre as lacunas
das incertezas.


O que me atrai.

Não gosto e não me atraio pelo o que aparentemente é belo por intermédio dos parâmetros convencionais.Contemplo um sorriso transparente, olhos expressivos,uma cor de cabelo. Mas fora a contemplação, admiro e me apego: às ditas imperfeições ou assimetrias - uma pinta fora do eixo, cicatrizes,  manchas, dobras,cara amassada de manhã, cabelo cheio de nó e bagunçado.É isso que mostra quem somos, é isso o que nos caracteriza como seres frágeis e humanos. Me apaixono pelos gestos amoráveis, pelo cuidado, pelo riso, pela sonoridade de uma voz, por uma história. Um abraço, um cheiro. Um olhar acolhedor. São pormenores assim, que me são grandiosos. Que me mostram o valor de uma pessoa, de uma convivência. 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Pressa.

Não sei mais lidar com a efemeridade das coisas.
Gosto e prezo pelas mudanças, mas o que passa muito rápido
e não toca a alma não me apetece mais.

Meu coração tá cansado de esperar,
tenho pressa.
Pelo toque.
Pela calma.
Por ser devorada de amor.


Prefiro ser piegas à estar apática e impessoal.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Rua sem saída.

É nesse lugar, é nesse espaço
que me encontro e me perco.
A rua sem saída tem uma porta,
mas eu prefiro nela ficar.
Nos nossos suspiros,
no nosso calor, nos nossos abraços.

Ouvir você cantar,
ouvir o timbre grave da sua voz.
Alta, sussurrante.

Nas noites sem dormir,
e cessar só quando o Sol quiser surgir,
o galo cantar, sem parar.

Não gosto de nomear mais os meus sentimentos
nem de medi-los,
nem de confiná-los.

Minha química é a minha maior inimiga
que prende a minha razão,
enlouquece  a minha emoção,
sem devoção.

Me faz querer ficar na Rua sem saída,
labirinto do meu desejo,
esconderijo do meu afeto.

Não se mede tempo,
não se mede anseio.
Só contam-se as lágrimas,
o gosto  amargo da frustração.

De alguém que prefere que eu use
a saída,
o teto de círculos até a rua de verdade.
A rua circulante.

Onde só se encontra tristeza,
onde mora a solidão.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Só pelo dia de hoje.

Todo mundo sabe,
todo mundo está farto.
Suspira.
Grita.
Ninguém está a salvo.
Não tem jeito, é inevitável,
o mundo ( o mundo - os seres humanos e não o planeta Terra em si, como um todo)
está putrefato, sujo,
doente.

Mas quero só por hoje,
concentrar as minhas energias no que há de bom,
frutífero e amoroso.
No que preenche a alma,
e não no que me causa um vazio,
aquele vazio que beira o desgosto.

Não só em agosto existe desgosto,
mas em todos os outros meses do ano.
E peço, que só por hoje
a sombra que eu vejo, que sinto, seja o completamento da luz
que habita o Universo.
Em equilíbrio, e não maior que tudo.

E quando peço pelo dia de hoje,
sei
tenho consciência que ainda há o massacre em Gaza.
Sei que o sangue de pessoas inocentes, vítimas de um sistema
cruel, escorre.
Que existe gente suplicando por atenção nas ruas,
com fome, frio, carente de afeto
que existe gente perdida, doente da cabeça,
doente do coração.

Mas só hoje
quero poder saber que no mundo também
habitam os gestos amoráveis,
as gentilezas, os aromas envolventes,
os sons harmoniosos.
As cores, o abraço, o colo, o útero.

É daí que tiro a minha força pra continuar com os dias,
é daí que paro de fugir nos meus sonhos por medo de
ficar acordada.
A partir daí faz com que pare mais um ponto de esperança morrer,
dentro de mim, secar, sem terra molhada e adubada que
faça cultivar a semente da renovação.


Só por hoje quero molhar minha
terra interior. E assistir um novo broto
(re)nascer.